A líder indígena, Letícia Yawanawá não apresentou novidades sobre o caso Francisco Pianko, durante depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura casos de violência sexual contra menores no Acre, realizado na tarde desta terça-feira, 18, na Assembleia Legislativa (Aleac).
Ela apenas reafirmou o que já tinha dito à Polícia Federal (PF) e ao Ministério Público Federal (MPF), revelando casos onde o assessor do Governo, supostamente teria cometido crimes contra quatro adolescentes.
Por mais de duas horas, Letícia Yawanawá, falou de sua luta na defesa das mulheres indígenas, dos problemas que dividiram a etnia em dois grupos, das dificuldades enfrentadas pelos índios acreanos e do desejo que os crimes contra as indígenas sejam apurados e combatidos.
Aos membros da CPI, Letícia Yawanawá, esclareceu que durante uma reunião com três assessores do Governo, cinco lideranças indígenas fizeram várias reclamações contra Francisco Pianko, afirmando que as ações do assessor estavam prejudicando a etnia, pois beneficiavam a um grupo e prejudicava ao outro.
Ela disse que um dos assessores teria dito que os problemas internos da etnia deveriam ser resolvidos entre eles e que o Governo não podia interferir. A afirmação de Letícia foi fundamental para esclarecer as denúncias que os assessores estariam protegendo Francisco Pianko.
Respondendo uma pergunta do presidente da Aleac, deputado Edvaldo Magalhães (PC do B), ela ressaltou que a afirmação do assessor foi relacionada aos problemas de divisão da etnia e não sobre os possíveis casos de abuso sexual cometidos por Francisco Pianko.
"Esse depoimento foi importante, pois esclareceu que não houve omissão por parte dos assessores do Governo e revelou que não existe mais nada a ser dito sobre o caso Francisco Pianko. Vamos agora aguardar cópias dos depoimentos prestados na Polícia Federal e Ministério Público para que a CPI possa continuar trabalhando", destacou o presidente da Aleac, deputado Edvaldo Magalhães.
Após o depoimento, o deputado Luis Tchê (PMN), disse que Letícia Yawanawá contribuiu para os trabalhos da CPI. Ele disse que novos depoimentos podem ser realizados nos próximos dias.
Denúncias contra Pianko
Depois de fazer um relato de sua luta na defesa das mulheres indígenas, Letícia apresentou dois casos em que Francisco Pianko teria mantido relações com duas índias menores de idade, uma delas teria, inclusive, um filho com ele.
"Recebei denúncias de uma índia que teve um relacionamento com o Francisco e que, depois que ficou maior de idade e adulta, ele a deixou. O pai dessa menina, disse que o Pianko teria até comprado móveis em seu nome e não pagou. Como o pai disse que iria denuncias ao Governo, ele pagou a conta", revelou
No outro caso, Letícia Yawanawá disse que o relacionamento durou até a índia atingir a maior idade. Ela não revelou nomes das meninas, nem mesmo a idade das mesmas, afirmando que a primeira índia teria entre 16 e 17 anos.
A líder indígena revelou ainda que Francisco Pianko teria feito várias ligações para uma jovem índia, afirmando que a garota poderia ser "sua segunda esposa e viver bem melhor". Algumas ligações foram acompanhadas por outras pessoas.
"Essa menina é uma sobrinha minha que veio morar em minha casa. O Francisco ligou várias vezes dizendo que ela podia viver bem melhor, ser a sua segunda esposa. Mas a garota não aceitou os convites e não teve nenhum tipo de relação com ele", explicou.
O outro caso apresentado por Letícia Yawanawá foi de uma índia, filha de José Correia, que mora em Tarauacá, e que também foi assediada por Francisco Pianko. O pai da menina revelou que várias vezes o assessor teria pedido para a jovem "deixar a porta do quarto aberta que ele queria dormir com ela". Nesse caso também não houve relacionamento entre eles.
José Correia que acompanhou boa parte do depoimento de Letícia Yawanawá, confirmou as denúncias e disse que esta disponível a revelar detalhes aos membros da CPI.
As meninas foram ouvidas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal. Pelo menos duas delas, negaram ter tido algum tipo de relacionamento com Francisco Pianko. Segundo Letícia Yawanawá, apenas uma teria confirmado que o assessor fez propostas a ela.
Medo de denunciar e ameaças
Bastante segura, Letícia Yawanawá disse que as denúncias só foram feitas agora, porque muitos membros da aldeia temiam ser prejudicados, afirmando que Francisco Pianko, por ser assessor do Governo, tinha muitas pessoas a seu favor.
A líder indígena lembrou que muitas pessoas sabiam dos casos, mas tinham medo de revelar, temendo prejuízos para suas famílias e para a aldeia. Letícia disse que resolveu denunciar Pianko porque muitas meninas estavam sendo vítimas e ela temia por sua filha.
"O que eu estou fazendo aqui não é fácil. Expor nosso povo não é da nossa cultura. Mas um índio que está no poder deve defender deve defender e não prejudicar sua gente. Eu decidi denunciar antes que acontecesse com minha filha", desabafou.
Letícia Yawanawá disse que recebeu várias ameaças, mas não revelou nomes e afirmou que todas foram feitas através de ligações para seu telefone. Ela destacou que a demissão de seu esposo, Antônio Apurinã da direção da Funai, pode ter sido motivada pelas denúncias apresentadas contra Pianko. "Falaram até que meu filho, que trabalha na Biblioteca da Floresta, pode ser demitido", disse.
Reunião com assessores do Governo
Em seu depoimento Letícia Yawanawá revelou que lideranças indígenas se reuniram com três assessores do Governo do Estado, para reclamar sobre as ações realizadas por Francisco Pianko e que estavam dividindo a etnia. Ela disse que durante a reunião, foram apresentadas várias denúncias.
"As lideranças apresentaram várias reclamações e pediram ajuda dos assessores. Mas o Edergad disse que eles nada podiam fazer e que isso era problema que deveria ser resolvido dentro da aldeia", explicou.
Respondendo a uma pergunta feita pelo presidente da Aleac, deputado Edvaldo Magalhães (PC do B), Letícia disse que a afirmação se referia à questão da divisão da etnia e não precisamente das denúncias de abuso sexual que teria sido praticado por Francisco Pianko.
Com a declaração, Letícia deixou claro que as lideranças indígenas não procuraram a equipe de Governo para fazer denúncias de pedofilia contra Pianko, mas sim para expor uma divisão na etnia.
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