Na época da ditadura militar, foi ensinado nas escolas que o Brasil era a maior “democracia racial” do mundo.
A
ideologia havia sido formada antes, em outra ditadura, no Estado Novo,
já sob o impacto da II Guerra e do nazi-fascismo. A ideia de que “não
havia racismo no Brasil” era, assim, funcional para projetar nossa
imagem em um cenário internacional onde os desdobramentos do racismo e
do ódio haviam se tornado evidentes. Os defensores do mito da democracia
racial brasileira buscaram argumentos na obra de Gilberto Freyre,
talvez o mais influente e prestigiado intelectual em toda nossa
história. Tanto quando compreendo Casa Grande & Senzala, não se pode
atribuir esta noção a Freyre, embora se saiba que ele próprio a
legitimou quando, para infortúnio de sua biografia, apoiou o golpe de
64, denunciou “subversivos” e manteve cordial relação com os militares. A
miscigenação é uma das nossas mais importantes características como
nação e parece verdadeiro afirmar que o ódio racial não encontrou entre
nós espaços para fenômenos como a Ku Klus Klan ou movimentos de
“supremacia branca”. Não há a menor dúvida, entretanto, que o Brasil é
um país racista.
A dificuldade em reconhecer o racismo como um problema central no Brasil deriva do fato de que o tipo de preconceito racial prevalecente em nossa cultura foi recalcado. Todos sabem que o racismo é a expressão de um mal e não há quem sustente sua prática. Entretanto, sempre que brancos ofendem negros, o tema da cor e da etnia emerge em sua linguagem assassina. Bourdieu explicaria esse tema com o conceito de “habitus”. Para ele, carregamos um sistema de disposições duráveis e, em larga medida, inconscientes, que nos oferece uma matriz de percepções. O processo diz respeito à dinâmica pela qual a sociedade se deposita nos indivíduos – ainda que eles disso não tenham notícia. O resultado é um “filtro” que condiciona nosso olhar sobre o mundo e nossas respostas. No Brasil, temos um habitus racista, resultado de três séculos de escravidão. Quando torcedores chamam jogadores e juízes de “macacos”, quando imitam os símios e jogam bananas para os negros, estamos diante de uma matriz histórica pelo qual nos identificamos com os capitães do mato e com os feitores. Se perguntados, os agressores não irão se declarar “racistas”. Talvez até acreditem mesmo que não o são e que as ofensas praticadas no estádio de futebol se justifiquem pelo “contexto”.
O contexto verdadeiro, entretanto, é o da vergonha, razão pela qual a postura de pessoas como o árbitro Márcio Chagas e como os jogadores Tinga e Arouca, para citar apenas três vítimas do racismo, deve ser amplamente elogiada. Eles vieram a público para denunciar a imbecilidade e exigir o respeito que todos merecem. Estão com toda a razão. Se aceitarmos esse tipo de prática, o Brasil corre o risco de ser governado por gente como o deputado federal Luis Carlos Heinze (PP) e, então, será tarde demais para quilombolas, índios e homossexuais. A propósito, li que haverá atos “em desagravo” ao deputado. Sugiro Wagner na trilha sonora e marchas com passo de ganso.
A dificuldade em reconhecer o racismo como um problema central no Brasil deriva do fato de que o tipo de preconceito racial prevalecente em nossa cultura foi recalcado. Todos sabem que o racismo é a expressão de um mal e não há quem sustente sua prática. Entretanto, sempre que brancos ofendem negros, o tema da cor e da etnia emerge em sua linguagem assassina. Bourdieu explicaria esse tema com o conceito de “habitus”. Para ele, carregamos um sistema de disposições duráveis e, em larga medida, inconscientes, que nos oferece uma matriz de percepções. O processo diz respeito à dinâmica pela qual a sociedade se deposita nos indivíduos – ainda que eles disso não tenham notícia. O resultado é um “filtro” que condiciona nosso olhar sobre o mundo e nossas respostas. No Brasil, temos um habitus racista, resultado de três séculos de escravidão. Quando torcedores chamam jogadores e juízes de “macacos”, quando imitam os símios e jogam bananas para os negros, estamos diante de uma matriz histórica pelo qual nos identificamos com os capitães do mato e com os feitores. Se perguntados, os agressores não irão se declarar “racistas”. Talvez até acreditem mesmo que não o são e que as ofensas praticadas no estádio de futebol se justifiquem pelo “contexto”.
O contexto verdadeiro, entretanto, é o da vergonha, razão pela qual a postura de pessoas como o árbitro Márcio Chagas e como os jogadores Tinga e Arouca, para citar apenas três vítimas do racismo, deve ser amplamente elogiada. Eles vieram a público para denunciar a imbecilidade e exigir o respeito que todos merecem. Estão com toda a razão. Se aceitarmos esse tipo de prática, o Brasil corre o risco de ser governado por gente como o deputado federal Luis Carlos Heinze (PP) e, então, será tarde demais para quilombolas, índios e homossexuais. A propósito, li que haverá atos “em desagravo” ao deputado. Sugiro Wagner na trilha sonora e marchas com passo de ganso.
Marcos Rolim
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