Captar
recursos para o desenvolvimento institucional é fundamental para a
sustentabilidade e eficácia das organizações sociais. Muitas vezes, o foco está
em financiar projetos específicos que atendem necessidades imediatas das comunidades.
No entanto, para que essas iniciativas sejam bem-sucedidas e tenham um impacto
duradouro, as organizações precisam de uma base sólida.
Investir em
desenvolvimento institucional significa fortalecer aspectos como governança,
capacitação de equipe, infraestrutura, e sistemas de gestão. Esses
investimentos permitem que as organizações não apenas executem seus projetos de
forma mais eficiente, mas também ampliem sua capacidade de resposta a desafios
e sustentem suas atividades ao longo do tempo.
Além disso, um forte desenvolvimento institucional atrai mais parceiros e financiadores, que frequentemente buscam organizações robustas e confiáveis para investir. Quando uma organização demonstra que pode gerenciar recursos de forma eficaz e possui uma estratégia clara de desenvolvimento, ela se torna mais atraente e isso cria um ciclo virtuoso: mais investimentos em desenvolvimento institucional levam a uma maior capacidade de realizar e expandir projetos, o que, por sua vez, gera mais resultados e atrai mais apoio.
Durante o
FIFE 2024, a diretora executiva do Instituto ACP, Erika Sanchez, conduziu uma
palestra sobre o desenvolvimento institucional e a captação de recursos para
organizações da sociedade civil. Durante a apresentação, o desenvolvimento institucional
foi definido como o processo de fortalecimento e aprimoramento das estruturas,
capacidades e práticas de gestão para que as organizações possam cumprir mais
eficazmente suas missões e atingir seus objetivos. De forma mais resumida, é
“tudo o que acontece da porta para dentro”.
Nas
organizações da sociedade civil (OSCs), o desenvolvimento institucional tem 11
agendas:
1.
Governança
2.
Planejamento estratégico
3.
Monitoramento e avaliação
4. Cultura,
gestão e desenvolvimento de pessoas
5.
Diversidade e inclusão
6.
Comunicação e relacionamento
7. Captação
de recursos e mobilização de parcerias
8. Gestão
administrativo-financeira
9. Gestão
jurídica
10. Gestão
do conhecimento
11.
Tecnologia e inovação
“Desenvolvimento
institucional é algo que você está sempre olhando, não tem nenhum modelo único,
mas um um modelo que te atende para o momento específico em que você está, que
atende a sua estratégia de agora. O desenvolvimento institucional é mais sobre
fazer perguntas do que sobre respostas prontas. Por exemplo: ‘O que é uma boa
convivência?’, ‘Qual é a planilha financeira ideal?’. Existem modelos, mas
talvez o que vai servir na sua organização, não surpreenda outra organização.
Talvez o que se dá hoje para a sua organização, daqui a cinco anos não vai mais
servir”, disse Erika.
A diretora
do Instituto ACP observa que, conscientemente ou não, as organizações estão
constantemente buscando melhorar e se fortalecer. Sem uma estrutura sólida e
funcional, não é possível alcançar seus objetivos. Ela ressalta a importância
de que esse processo seja consciente, para garantir a sustentabilidade da
organização e para comunicar efetivamente sua missão para o público.
Mitos sobre
desenvolvimento institucional
Para ajudar
na compreensão sobre a captação de recursos para desenvolvimento institucional,
Erika apresentou nove mitos que precisam ser ressignificados.
Mito 1:
Desenvolvimento institucional é sinônimo de crescimento
O primeiro
deles é a crença de que o desenvolvimento institucional deve ser, necessariamente,
um movimento de crescimento contínuo. Ela questiona essa ideia, ressaltando que
o crescimento não é uma obrigação e, sim, uma opção. Em vez de se fixar na meta
de expansão a qualquer custo, ela propõe uma reflexão sobre a qualidade do
trabalho realizado dentro das dimensões atuais da organização. Precisamos de
organizações de todos os tamanhos. O desenvolvimento institucional melhora a
qualidade de entrega, tendo foco em aumento de escala ou não. Para ser mais
estratégico, é preciso ter clareza de foco e direção e isso é oposto à ideia de
fazer mais coisas”.
Mito 2:
Esconder as vulnerabilidades
O segundo
mito apresentado por Erika é o de que a organização deve esconder as
vulnerabilidades para conseguir captar recursos. “O investidor não vai doar
para o desenvolvimento institucional da OSC se ele não tiver uma boa
compreensão dos desafios que precisam ser superados. O desenvolvimento
institucional não é um projeto que acaba, ele dura enquanto a organização
existir”. Essa abordagem estratégica exige uma mudança de mentalidade por parte
dos captadores de recursos, que devem ser capazes de comunicar de forma
transparente as necessidades específicas de desenvolvimento institucional das
organizações.
Mito 3:
Adotar práticas do setor privado é a solução para uma boa gestão
Um terceiro
mito discutido por Erika é a ideia de que as organizações do Terceiro Setor
devem se espelhar nas práticas do setor privado para alcançar uma boa gestão.
Ela reconhece que há aspectos das práticas empresariais que podem ser
inspiradores, mas ressalta que nem todas as estratégias empresariais são
aplicáveis ao contexto das organizações sociais. “Na verdade, muitas práticas
do setor privado são a origem dos problemas que estamos tentando resolver.
Podemos nos inspirar pelas boas práticas, mas precisamos criar nossas próprias
práticas adaptadas ao nosso modelo de atuação”.
Mito 4: Todo
o recurso que eu captar sempre deve priorizar o investimento em projetos
O quarto
mito é o de que todo o recurso captado deve sempre deve priorizar o
investimento em projetos. Erika observa que poucas organizações reconhecem a
necessidade de financiamento para o desenvolvimento institucional. “Talvez você
consiga algum recurso livre, ou alguma porcentagem do edital que seja livre”,
sugere, destacando a importância de uma mudança de mentalidade entre as
organizações.
Erika
encoraja as organizações a adotarem uma visão mais ampla sobre o impacto do
desenvolvimento institucional, vendo-o como um investimento na capacidade da
organização de cumprir sua missão eficientemente. “Investir em desenvolvimento
institucional é investir na própria missão da organização,” concluiu, chamando
a atenção para a necessidade de um compromisso coletivo para reconhecer e
valorizar esse aspecto essencial, o que envolve sensibilizar e educar os
financiadores para esse tipo de financiamento, destacando que ao contribuir com
o desenvolvimento institucional da organização, eles também estão contribuindo
com o progresso econômico, social e cultural do país.
inf.via/ABCR
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