O carioca Guilherme Duque Estrada não vê sua filha de quatro anos, nascida no Acre, desde o primeiro aniversário dela, em 1994. Ele deixou o Estado naquele ano, depois de assessorar Orleir Cameli na prefeitura de Cruzeiro do Sul e na campanha para o governo do Acre.
"Parti porque descobri muita coisa sobre a morte do ex-governador Edmundo Pinto", afirma. O antecessor de Cameli foi morto em um hotel de São Paulo, em 1992, quando se preparava para depor sobre a obra do Canal da Maternidade - para a qual o ex-ministro Rogério Magri confessou ter pedido propina para liberar verbas. Estabelecer relações entre assassinatos, política e obras superfaturadas na região é o objetivo do livro que Guilherme lança em novembro.
O ex-assessor acusa o governador do Amazonas, Amazonino Mendes, de comandar o "Cartel de Manaus", que organizaria negócios com dinheiro público na região. A Cameli caberão "indícios fortes" de envolvimento com o narcotráfico. Ele esteve em São Paulo para assinar contrato com a editora Boitempo e concedeu a seguinte entrevista a ISTOÉ:
ISTOÉ - Do que vai tratar seu livro?
Guilherme Duque Estrada - Do que se chama na região Norte de Cartel de Manaus. Os fatos começam em 1989, quando o atual governador do Amazonas, Amazonino Mendes, ocupando o cargo pela primeira vez, convoca uma reunião para organizar campanhas nas eleições do ano seguinte, quando ele seria eleito senador. Entre os presentes estava o atual governador do Acre, Orleir Cameli, de quem Amazonino foi advogado e sócio. Ficou acertado que Amazonino bancaria as campanhas de dois candidatos a governador do PFL, presentes à reunião: no Acre, Rubens Branquinho, em Rondônia, Osvaldo Piana. Em troca, indicaria as empresas que fariam obras nos dois Estados. No Acre, a Marmud Cameli, e em Rondônia, a Contrec. No Acre, Branquinho perdeu a eleição para Edmundo Pinto, do então PDS (hoje PPB). Em Rondônia, o Piana não estava no segundo turno. Só que um dos finalistas, o senador Olavo Pires, é assassinado e quem assume sua vaga é Piana, que vence.
ISTOÉ - Quem matou Olavo Pires?
Guilherme - O senador ia denunciar obras superfaturadas no DER. A Polícia Federal tem indícios contra pessoas como o empreiteiro Lázaro Barbosa, da Contrec e o próprio Osvaldo Piana. Todos eles teriam interesse na morte do Olavo Pires. Não há ainda nenhuma conclusão oficial, como não há no caso dos assassinatos do Edmundo Pinto e do Vandervan, da Cohab do Acre.
ISTOÉ - Era o Canal da Maternidade?
Guilherme - Edmundo Pinto morreu em 17 de maio de 1992. Ele ia prestar, dois dias depois, depoimento à CPI do Magri. Ele pretendia contar quanto custava para chegar recursos ao Estado do Acre. Outra vítima foi o Vandervan de Souza, presidente da Cohab na gestão Edmundo Pinto. Quando a PF concluiu seu relatório sobre o caso do canal, indiciou 14 pessoas, entre elas Carlos Airton Magalhães, presidente da Sanacre e sobrinho do vice-governador que assumiu no lugar do Edmundo Pinto, Romildo Magalhães. Dias antes de depor na PF, Vandervan foi assassinado na porta de casa. Foi o mesmo grupo que passou a me perseguir, no final de 1994, quando deixei o Acre, sem romper com o Cameli. Eu havia descoberto coisas e era a bola da vez. Sofri o primeiro atentado, um tiro no rosto. Parei de poupar o Cameli em 1995, após conversar num hotel de Manaus com o irmão dele, o Eládio. Já no aeroporto, soube que tinham mandado o Leó, o matador do Cameli, me apagar.
ISTOÉ - Como age hoje o cartel?
Guilherme - Quem comanda tudo é o Amazonico. Hoje a Marmud Cameli está fazendo obras da BR-174 e constrói portos no Amazonas. Em contrapartida, empresas como a Kapa, a Enpa e a Enconcel fazem obras das estradas BR-317 e BR-364, no Acre. A Enconcel é aquela que o suposto dono, o Fernando Bonfim, diz que ela pertence ao Amazonino e até apresentou fitas com o filho do governador admitindo isso. Já o Otávio Raman, dono da Kapa, aluga para o Amazonino a mansão onde ele mora, por R$ 7 mil mensais, quando se sabe que o salário de governador é de R$ 6 mil. A Enpa é a Contrec, do Lázaro Barbosa.
ISTOÉ - Cameli é ligado ao tráfico?
Guilherme - Há muitos indícios. Em 7 de agosto de 1995 foi apreendido no aeroporto de Cumbica, em São Paulo, um boieng com contrabando, com o nome da construtora Marmud Cameli e comandado pelo piloto Mauro Olivier de Castro, que havia sido preso em 1990 no apartamento do Antônio Mota Graça, vulgo Curica, membro do Cartel de Cali. Em 1993, o Cameli mandou buscar no aeroporto de Rio Branco, vindo de São Paulo, Jamil Hassoul, comerciante de Foz de Iguaçu preso por envolvimento com o narcotráfico. Agora, dizer se o Cameli tomava parte cabe à Polícia Federal.
guilherme duque estrada - 06 de agosto de 1997
"Parti porque descobri muita coisa sobre a morte do ex-governador Edmundo Pinto", afirma. O antecessor de Cameli foi morto em um hotel de São Paulo, em 1992, quando se preparava para depor sobre a obra do Canal da Maternidade - para a qual o ex-ministro Rogério Magri confessou ter pedido propina para liberar verbas. Estabelecer relações entre assassinatos, política e obras superfaturadas na região é o objetivo do livro que Guilherme lança em novembro.
O ex-assessor acusa o governador do Amazonas, Amazonino Mendes, de comandar o "Cartel de Manaus", que organizaria negócios com dinheiro público na região. A Cameli caberão "indícios fortes" de envolvimento com o narcotráfico. Ele esteve em São Paulo para assinar contrato com a editora Boitempo e concedeu a seguinte entrevista a ISTOÉ:
ISTOÉ - Do que vai tratar seu livro?
Guilherme Duque Estrada - Do que se chama na região Norte de Cartel de Manaus. Os fatos começam em 1989, quando o atual governador do Amazonas, Amazonino Mendes, ocupando o cargo pela primeira vez, convoca uma reunião para organizar campanhas nas eleições do ano seguinte, quando ele seria eleito senador. Entre os presentes estava o atual governador do Acre, Orleir Cameli, de quem Amazonino foi advogado e sócio. Ficou acertado que Amazonino bancaria as campanhas de dois candidatos a governador do PFL, presentes à reunião: no Acre, Rubens Branquinho, em Rondônia, Osvaldo Piana. Em troca, indicaria as empresas que fariam obras nos dois Estados. No Acre, a Marmud Cameli, e em Rondônia, a Contrec. No Acre, Branquinho perdeu a eleição para Edmundo Pinto, do então PDS (hoje PPB). Em Rondônia, o Piana não estava no segundo turno. Só que um dos finalistas, o senador Olavo Pires, é assassinado e quem assume sua vaga é Piana, que vence.
ISTOÉ - Quem matou Olavo Pires?
Guilherme - O senador ia denunciar obras superfaturadas no DER. A Polícia Federal tem indícios contra pessoas como o empreiteiro Lázaro Barbosa, da Contrec e o próprio Osvaldo Piana. Todos eles teriam interesse na morte do Olavo Pires. Não há ainda nenhuma conclusão oficial, como não há no caso dos assassinatos do Edmundo Pinto e do Vandervan, da Cohab do Acre.
ISTOÉ - Era o Canal da Maternidade?
Guilherme - Edmundo Pinto morreu em 17 de maio de 1992. Ele ia prestar, dois dias depois, depoimento à CPI do Magri. Ele pretendia contar quanto custava para chegar recursos ao Estado do Acre. Outra vítima foi o Vandervan de Souza, presidente da Cohab na gestão Edmundo Pinto. Quando a PF concluiu seu relatório sobre o caso do canal, indiciou 14 pessoas, entre elas Carlos Airton Magalhães, presidente da Sanacre e sobrinho do vice-governador que assumiu no lugar do Edmundo Pinto, Romildo Magalhães. Dias antes de depor na PF, Vandervan foi assassinado na porta de casa. Foi o mesmo grupo que passou a me perseguir, no final de 1994, quando deixei o Acre, sem romper com o Cameli. Eu havia descoberto coisas e era a bola da vez. Sofri o primeiro atentado, um tiro no rosto. Parei de poupar o Cameli em 1995, após conversar num hotel de Manaus com o irmão dele, o Eládio. Já no aeroporto, soube que tinham mandado o Leó, o matador do Cameli, me apagar.
ISTOÉ - Como age hoje o cartel?
Guilherme - Quem comanda tudo é o Amazonico. Hoje a Marmud Cameli está fazendo obras da BR-174 e constrói portos no Amazonas. Em contrapartida, empresas como a Kapa, a Enpa e a Enconcel fazem obras das estradas BR-317 e BR-364, no Acre. A Enconcel é aquela que o suposto dono, o Fernando Bonfim, diz que ela pertence ao Amazonino e até apresentou fitas com o filho do governador admitindo isso. Já o Otávio Raman, dono da Kapa, aluga para o Amazonino a mansão onde ele mora, por R$ 7 mil mensais, quando se sabe que o salário de governador é de R$ 6 mil. A Enpa é a Contrec, do Lázaro Barbosa.
ISTOÉ - Cameli é ligado ao tráfico?
Guilherme - Há muitos indícios. Em 7 de agosto de 1995 foi apreendido no aeroporto de Cumbica, em São Paulo, um boieng com contrabando, com o nome da construtora Marmud Cameli e comandado pelo piloto Mauro Olivier de Castro, que havia sido preso em 1990 no apartamento do Antônio Mota Graça, vulgo Curica, membro do Cartel de Cali. Em 1993, o Cameli mandou buscar no aeroporto de Rio Branco, vindo de São Paulo, Jamil Hassoul, comerciante de Foz de Iguaçu preso por envolvimento com o narcotráfico. Agora, dizer se o Cameli tomava parte cabe à Polícia Federal.
guilherme duque estrada - 06 de agosto de 1997
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