
Por Alon Feuerwerker
O que tanto incomoda Luiz Inácio Lula da Silva na candidatura de José Sarney (PMDB-AP) à Presidência do Senado? Eis um mistério da atual disputa pelo comando do Congresso. Afinal, o senador talvez seja o mais leal entre os aliados de Lula. Nestes seis anos de governo, não há episódio em que o político maranhense tenha faltado ao presidente. Ao contrário. Num Senado conturbado pelo equilíbrio precário entre governistas e oposicionistas, Sarney foi um porto seguro para Lula, mesmo nos piores momentos.
Se a preocupação central do presidente fosse a boa governabilidade nos pouco menos de dois anos que lhe restam, não haveria por que Lula se incomodar com a candidatura Sarney. Outra hipótese é de que o presidente estaria melindrado com a perda de espaço político do PT. Será? Desde que sentou na cadeira, há seis anos, Lula vem relativizando o poder do partido sem dó nem piedade, para felicidade do PMDB. Lula cultiva a força do PT, mas também a sua fraqueza, num jogo contraditório. Um PT suficientemente fraco deixa a sigla cada vez mais dependente do líder. Tem, por exemplo, que aceitar sem choro nem vela o nome do Palácio para 2010. Em se tratando de PT, não deixa de ser uma novidade e tanto.
Outra tese que vem ganhando pernas é a suposta resistência de Lula a um excesso de poder para o PMDB. Como se Lula acreditasse numa entidade chamada "PMDB". Como se ele ignorasse não haver um PMDB, mas pelos menos dois, se não mais. Aliás, a melhor maneira de manter o PMDB dividido é oferecer poder para todas as alas, para todas as ambições. Pois cada uma não se contenta apenas com estar saciada. Precisa sempre que a outra esteja à míngua. Um bom sintoma disso são os termos em que os peemedebistas "da Câmara" se referem aos "do Senado" nos últimos dias, desde que a candidatura Sarney decolou.
Os políticos têm um relógio biológico muito particular. Só há uma coisa que eles apreciam mais do que poder na máquina de governo: poder na máquina do partido na hora certa, quando acontecem as definições eleitorais. Conforme vai chegando a eleição, a luta pelo cartório vai ganhando importância relativa em relação à batalha pelas benesses orçamentárias. Pois o controle do cartório costuma ser a chave para estender as benesses orçamentárias por mais quatro anos.
Lula prefere Tião Viana (PT-AC) a José Sarney porque tem certeza de que o acreano estará com o nome do PT em 2010. Já Sarney pode estar ou não. E Lula gostaria de ver Michel Temer (PMDB-SP) na Presidência da Câmara dos Deputados porque, no entendimento de ambos, o acordo dá a Lula a prerrogativa de indicar alguém de confiança para a vaga que um Temer presidente da Câmara deixaria aberta na Presidência do PMDB.O Palácio do Planalto não tem agenda legislativa até a sucessão. De tempos em tempos irá relembrar as reformas (tributária, política), apenas para entreter a plateia. Enquanto os cães latirem, a caravana do PAC vai passar. Do Congresso, Lula só não quer confusão. Assim, o que vai estar em disputa no próximo dia 2 é principalmente o controle cartorial do PMDB. No desfecho desenhado a partir do Planalto, Lula vai amanhecer o dia seguinte à eleição das Mesas com a caneta do PMDB na mão. Com todos os instrumentos para atrelar a sigla ao projeto de continuidade em 2010. O que, além do mais, deixaria o presidente menos vulnerável às ambições de outros eventuais aliados na empreitada para eleger o sucessor.
Quem resiste à dobradinha Temer-Viana, especialmente no campo governista, é porque não deseja um Lula de faca e queijo na mão em 2010. Políticos gostam de sobreviver, e para isso precisam ser necessários. Para o eleitor comum e para o poder. Pelo mesmo motivo, tanto o eleitor como o poder preferem depender o menos possível dos políticos. Assim funciona o ecossistema.
Fonte: Correio Braziliense
O que tanto incomoda Luiz Inácio Lula da Silva na candidatura de José Sarney (PMDB-AP) à Presidência do Senado? Eis um mistério da atual disputa pelo comando do Congresso. Afinal, o senador talvez seja o mais leal entre os aliados de Lula. Nestes seis anos de governo, não há episódio em que o político maranhense tenha faltado ao presidente. Ao contrário. Num Senado conturbado pelo equilíbrio precário entre governistas e oposicionistas, Sarney foi um porto seguro para Lula, mesmo nos piores momentos.
Se a preocupação central do presidente fosse a boa governabilidade nos pouco menos de dois anos que lhe restam, não haveria por que Lula se incomodar com a candidatura Sarney. Outra hipótese é de que o presidente estaria melindrado com a perda de espaço político do PT. Será? Desde que sentou na cadeira, há seis anos, Lula vem relativizando o poder do partido sem dó nem piedade, para felicidade do PMDB. Lula cultiva a força do PT, mas também a sua fraqueza, num jogo contraditório. Um PT suficientemente fraco deixa a sigla cada vez mais dependente do líder. Tem, por exemplo, que aceitar sem choro nem vela o nome do Palácio para 2010. Em se tratando de PT, não deixa de ser uma novidade e tanto.
Outra tese que vem ganhando pernas é a suposta resistência de Lula a um excesso de poder para o PMDB. Como se Lula acreditasse numa entidade chamada "PMDB". Como se ele ignorasse não haver um PMDB, mas pelos menos dois, se não mais. Aliás, a melhor maneira de manter o PMDB dividido é oferecer poder para todas as alas, para todas as ambições. Pois cada uma não se contenta apenas com estar saciada. Precisa sempre que a outra esteja à míngua. Um bom sintoma disso são os termos em que os peemedebistas "da Câmara" se referem aos "do Senado" nos últimos dias, desde que a candidatura Sarney decolou.
Os políticos têm um relógio biológico muito particular. Só há uma coisa que eles apreciam mais do que poder na máquina de governo: poder na máquina do partido na hora certa, quando acontecem as definições eleitorais. Conforme vai chegando a eleição, a luta pelo cartório vai ganhando importância relativa em relação à batalha pelas benesses orçamentárias. Pois o controle do cartório costuma ser a chave para estender as benesses orçamentárias por mais quatro anos.
Lula prefere Tião Viana (PT-AC) a José Sarney porque tem certeza de que o acreano estará com o nome do PT em 2010. Já Sarney pode estar ou não. E Lula gostaria de ver Michel Temer (PMDB-SP) na Presidência da Câmara dos Deputados porque, no entendimento de ambos, o acordo dá a Lula a prerrogativa de indicar alguém de confiança para a vaga que um Temer presidente da Câmara deixaria aberta na Presidência do PMDB.O Palácio do Planalto não tem agenda legislativa até a sucessão. De tempos em tempos irá relembrar as reformas (tributária, política), apenas para entreter a plateia. Enquanto os cães latirem, a caravana do PAC vai passar. Do Congresso, Lula só não quer confusão. Assim, o que vai estar em disputa no próximo dia 2 é principalmente o controle cartorial do PMDB. No desfecho desenhado a partir do Planalto, Lula vai amanhecer o dia seguinte à eleição das Mesas com a caneta do PMDB na mão. Com todos os instrumentos para atrelar a sigla ao projeto de continuidade em 2010. O que, além do mais, deixaria o presidente menos vulnerável às ambições de outros eventuais aliados na empreitada para eleger o sucessor.
Quem resiste à dobradinha Temer-Viana, especialmente no campo governista, é porque não deseja um Lula de faca e queijo na mão em 2010. Políticos gostam de sobreviver, e para isso precisam ser necessários. Para o eleitor comum e para o poder. Pelo mesmo motivo, tanto o eleitor como o poder preferem depender o menos possível dos políticos. Assim funciona o ecossistema.
Fonte: Correio Braziliense
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